sexta-feira, 6 de maio de 2016


Já há algum tempo a esta parte que quero escrever por aqui e não o consigo fazer. Detesto quando isso acontece porque é sinal que não tenho a mente completamente "enquadrada", ou melhor, está enquadrada em muitas coisas ao mesmo tempo. Quando estou feliz, escrevo. Quando estou triste, escrevo. Quando estou com mau feitio, escrevo. Não quero com isto dizer que escrevo sempre, mas consigo quase sempre colocar em texto os estados de alma naquela altura ou naquele momento, naquele dia ou dias depois, pouco importa. Interessa sim, conseguir transporta-lo para outra parte, retratando assim, uma vez mais, factos e momentos. Pensamentos e opiniões.
Mas...
Quando tenho medo, bloqueio. 
Sinto que se colocar em texto poderá ser um mau presságio e ao reler será ainda mais real e consequentemente mais doloroso...
Tenho medo e não consigo escrever...e nem falar...
Tenho receio e somente com muita paciência e algum poder de argumentação se consegue retirar alguma coisa, a "ferros", como costumo dizer.
A carapaça é de tal forma impenetrável que custa...
 
Quando começou este episódio menos bom, dei por mim inúmeras vezes a imaginar a forma como te iria dizer,ou se o iria mesmo dizer...Dei por mim a pensar que, se por um lado poderia ser um "alivio" para mim partilhar com mais alguém, por outro lado pensava que não o poderia fazer por considerar que não tinha o direito de preocupar os outros, que era um problema meu e que já bastava ser eu a estar preocupada, com medo e todos os receios possíveis...Sim, também sei que ouvir opiniões dos outros atenua e acalma...ainda assim...achei que não tinha esse direito. Partilhamos até então algumas (muitas, para mim) coisas do nosso dia a dia, da nossa vida pessoal e profissional, de amigos e conhecidos, entre todas as outras coisas...mas este assunto seria difícil...muito difícil...um dos mais difíceis para mim até à data...

Sempre que vou às consultas mensais, vou de lágrima fácil e coração apertado. Sempre que vou a caminho recordo o quanto me deste na cabeça para tentar consulta lá, que seria melhor, que estava mais acompanhada, que era um descanso maior para mim...E consegui. E foi o melhor que deveria ter feito e ainda bem que o fiz.Obrigada.
Pensei que seria capaz de não contar nada a ninguém, acreditas? Que estupidez. Mas pensei mesmo.  A revolta é tão grande que não queremos falar nem ouvir. A angustia aperta de tal forma que pensamos que por não falar que tudo irá ser rebobinado e desaparecer. Puro erro. 
Agora vejo isso.
Apesar de me cortar o coração quando vejo o olhar da mãe. Apesar de nem sempre me sentir confortável por chorar no teu abraço. Por me sentir pequenina. Até nesta altura penso nos outros, incrível e assustador ao mesmo tempo. No inicio não contei a mãe para não preocupar. Não contei a ti para não ser um "peso" maior para ti ou sentires algum tipo de "teres de "dizer ou estar ou fazer. Não contei a amiga porque sei que não tem estrutura emocional para tal...tantas pessoas e tão sozinha na partilha. escolha minha, sem dúvida. Mas por vezes, até eu me canso de ser assim.

Não conto porque não quero, mas não é só por isso...é para não magoar os outros, para não ver o olhar deles, para não sofrerem por mim...correto? Não sei...Sinceramente não sei, mas sei que se fosse eu do outro lado gostaria de saber para auxiliar, ou somente para dar um mimo...E acho sinceramente que me iria aperceber de que algo não estava conforme...penso eu. Se estou presente, é para observar que aquela pessoa não está como habitual...ao mesmo tempo isto gera um contra-censo...Então quero que me perguntem ou não quero contar nada? 
Simples: quero que as pessoas que estão ao meu lado  me vejam realmente quando estão perto, ou mesmo sem estarem perto que percebam o tom da voz, o timbre,os silêncios, as pausas...uma serie de coisas...como tu conseguiste fazer desde o inicio dos inícios.Desde sempre! E como eu sei que também faço e consigo fazer e estar atenta!

Se hoje pudesse escolher, penso que não teria contado a ninguém. Iria ser mais difícil? Sim. Mais assustador? Não sei. Assusta-me também muito sentir-me fraca, pequena, cansada e exausta. Assusta-me querer dar alguma noticia boa e ter somente as mesmas coisas do habitual...dores, náuseas, cansaço, lágrimas, desabafos...
Se hoje estou contente por ter te contado? Sim. Sem dúvida. Mas sei que embora digas que ages e fazes as coisas de acordo com o que entendes ser o correcto...Eu sei. és sempre muito correcto e jamais pensaria que não estarias atento e presente e dedicado, e isso ,meu caro,não conseguirei NUNCA agradecer .

Não querendo fazer de ti um "saco" onde despejo o que vou acumulando, sabes o quanto me soube bem a conversa anterior que tivemos. A presença ainda que com alguns silêncios acabou por dizer muitas coisas e fica uma coisa, entre várias : pretendes proporcionar tranquilidade. Não significa que anteriormente não o tenhas feito, mas eu sei que existe outra sensibilidade.

Existe SEMPRE uma outra sensibilidade para o factor doença. Existe sempre um mimo, um carinho, uma palavra, uma mensagem, qualquer coisa que dê alento ou distraia de tudo aquilo menos bom que acabo por viver e reviver durante a semana.
E tem sido no aconchego do teu abraço que deixo que cuides um bocadinho de mim...porque durante os restantes dias ando sobre nuvens turbulentas que não me deixam abertura possível para me desmanchar e passar de mulher a menina. Nem o colo da mãe tem colmatado este cansaço até porque a mãe também tem sido uma esposa inigualável, que tenta dosear por vezes o impossível.

E tu tens sido inigualável...enquanto pessoa, bem formada e com valores e ideais acima da maioria do comum dos mortais ( pelo que tenho visto por aí!)
...mas também e essencialmente no papel de amigo. No papel de companheiro. De amante. No papel do Homem que escolho ter ao meu lado sempre que possível. No papel de ser respeitador e observador. de conselheiro. Mas gosto de demarcar a palavra "Amigo", considero-te acima de tudo isso e sei que ficaremos sempre Amigos...mesmo que as circunstâncias mudem, mesmo no silêncio que exista durante dias ou meses, como já aconteceu. Mesmo assim, eu sei, e julgo não me enganar, seremos sempre capazes de manter esta ligação. Porque faz sentir. E se faz sentir, é porque faz sentido.

Obrigada. Imensas vezes obrigada. Por seres como és. E acrescentares sempre um brilho ao meu olhar e um aconchego ao meu coração.
Tenho medos. Sinto-me cansada. Estou exausta. Sinto-me no expoente máximo das minhas capacidades de aguentar estas dificuldades que estão a existir em mim...mas ainda assim...tudo fica um pouquinho mais leve por estares por aqui. 

Um beijo e um afago

(A)caso
06/05/2016